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terça-feira, 19 de abril de 2011

Teses sobre a falta de classe

Vinicius Torres Freire

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso provocou um surto de sociologia no mundo político e midiático do Brasil. O pessoal passou a falar de classe social com a sem-cerimônia e a falta de classe que apenas a nossa ignorância desavergonhada permite.
O ataque foi desencadeado quanto esta Folha revelou nesta semana parte do teor de um artigo do presidente-sociólogo sobre mudanças sociais e a ruína programática e política de seu partido, o PSDB.
A julgar pelos comentários sobre o texto de FHC, os ataques de sociologia causam tanta dificuldade de enxergar como os piores casos do surto de conjuntivite, na moda em São Paulo. Senão, vejamos (sem intenção de trocadilho).
Primeiro, as definições de classe que andam por aí como miasmas do pensamento social não prestam para pensar questão social alguma.
Diz-se que existe uma "nova classe média", que brotou ou inflou nos anos Lula. Essa ideia de classe média ora disseminada pelo noticiário de assuntos econômicos é uma classificação estatística, apenas.
Num caso, conta o número de bens duráveis de uma família, mistura talvez com o número de banheiros e os anos de escola do chefe da família e chega a um indicador.
Noutro, apenas diz que famílias com renda entre o mínimo tal e máximo qual são de classe média (porque estão no meio de uma distribuição). Por exemplo, famílias com renda entre R$ 1.500 e R$ 5.000.
Por falar nisso, uma família com renda de R$ 1.500 não é "povão", para usar as categorias brilhantes do debate do PSDB?
A primeira classificação serve a publicitários e a empresas, que podem assim imaginar alvos de campanhas de vendas. A segunda, nem a isso -talvez sirva com indicador agregado do tamanho do mercado nacional. Não muito mais. Na verdade, trata-se de uma espécie de indicador de evolução de renda, apresentado com outros números.
Tais indicadores não permitem por si só inferir coisa alguma a respeito de aspirações sociais, comportamento político, preconceitos, "valores" dessas famílias.
Para fazer uma crítica sarcástica, mas não muito, o fato de um cidadão ter comprado uma TV de plasma ou de ter passado a ganhar R$ 1.600 (e não mais R$ 1.200) não permite inferir se ele gosta das afirmações do deputado Jair Bolsonaro, se aprova a reforma tributária ou se vota no PSDB ou no PT.
O debate chegou a um nível muito ruim, a ponto de os envolvidos nessa conversa se permitirem, sem mais, utilizar uma categoria estatística banal e limitada para discutir mentalidades, opções políticas coletivas etc. Isso está abaixo do economicismo mais vulgar.
Perdeu-se a ideia de que situação no trabalho, relações e "capital" sociais, educação, pertencimento a redes várias, região de moradia etc. são determinantes, complexos, do comportamento, do eleitor ou de grupos sociais.
Segundo, qual o cabimento de um partido político pensar se vai desistir de buscar votos entre tais e quais pessoas, "tais e quais" sendo no caso grupos de 30% a 60% do eleitorado, a depender do gosto estatístico do freguês? Mais interessante é: como tal discussão apareceu e se mantém no ar por dias? Pois se trata obviamente de um despropósito conceitual e pragmático.

vinit@uol.com.br

* Publicado na Folha de S.Paulo, em 15/04/2011.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Ranking para quê?

Vladimir Safatle

Um dos setores mais problemáticos das avaliações acadêmicas são os rankings mundiais de universidades. Mesmo com critérios que muitas vezes beiram o absurdo, eles influenciam decisões importantes ligadas à educação superior. Por isso, uma discussão sobre como tais rankings são feitos é mais que urgente.
Primeiro, o que impressiona quando os comparamos entre si são os disparates. Por exemplo, no ranking elaborado pela Universidade de Xangai, a Universidade de Paris 6 aparece em 39º lugar. Já naquele feito pela Times Higher Education, a mesma universidade está na 140ª posição.
A canadense McGill University ocupa a 61ª posição no ranking da Universidade de Xangai e a 35ª naquele da Times Higher Education. A USP aparece entre as 150 primeiras em um caso e sequer entre as 200 primeiras no outro. Esses são dois dos rankings mundialmente mais influentes.
Podemos dizer que o problema está na diversidade de critérios usados de um ranking a outro. Mas o problema é exatamente este: a ausência de um conjunto de critérios de fato representativo dos tipos de pesquisa e do real impacto da produção acadêmica.
Muitas vezes, os critérios são arbitrários e sem racionalidade alguma. Um claro exemplo diz respeito à avaliação da produção acadêmica. Em geral, tais rankings se propõem a avaliar a produção acadêmica a partir do total de artigos publicados em revistas indexadas ou a partir dos índices de citações a artigos e autores.
Note-se duas coisas impressionantes. Primeiro, tudo se passa como se não existissem livros. Se você é um pesquisador que produz um livro por ano, isso não será relevante para a avaliação da produtividade de sua universidade.
A razão é simplesmente o fato da área de ciências exatas ter sua produção baseada em artigos e papers. Mas isso não reflete a multiplicidade dos modos de produção acadêmica. Até segunda ordem, a cultura ocidental é uma cultura do livro, construída e influenciada a partir de livros, e não uma cultura do paper.
Por outro lado, os índices de citações expõem apenas a capacidade de circulação de um artigo, não sua qualidade. Não é difícil perceber que um artigo escrito em inglês sempre será mais citado que outro publicado em português, mesmo que o segundo seja melhor que o primeiro.
Mas, apesar disso, o fato de haver pesquisadores exóticos que ainda escrevem em português não indica que eles são inaptos a escrever em outra língua. Indica apenas que querem ter impacto em seu país, influenciar um público que fala sua própria língua.
É difícil entender por que critérios tão distorcidos sejam levados a sério. Está na hora de estabelecermos um verdadeiro diálogo entre áreas a fim de chegarmos a algo menos tendencioso e irreal.

* Publicado na Folha de S.Paulo, em 05/04/2011.

Entrevista com François Dubet


Quando o sociólogo quer saber o que é ser professor

François Dubet

Fonte: http://sociologia.uahurtado.cl/carrera/imagenes/Dubet-F.jpg  Quando o sociólogo quer saber o que é ser professor: entrevista com François Dubet FACED/UFRGS Colaboração de Delmar Poisl, em novembro de 2008 Publicado na Revista Brasileira de Educação, n 5, maio/ago 1977

Entrevista com François Dubet

Entrevista concedida a Angelina Teixeira Peralva e Marilia Pontes Sposito Universidade de São Paulo.
Tradução de Inês Rosa Bueno

Em entrevista concedida à Revista Brasileira de Educação em setembro de 1996, durante breve estada no Brasil, o sociólogo François Dubet reflete sobre a sua experiência de um ano como professor de história e geografia em um colégio da periferia de Bordeaux, França. Conhecido por suas pesquisas sobre a juventude marginalizada na França, François Dubet quis vivenciar, diretamente como professor, os dilemas da escola francesa contemporânea.

François Dubet é pesquisador do Centro d’Analyse et d’Intervention Sociologiques (CNRS – École des Hautes Études en Sciences Sociales), professor titular e chefe do departamento de sociologia da Universidade de Bordeaux II e membro senior do Institute Universitaire de France. É autor de mais de uma dezena de livros, entre os quais: la galére: jeunes en survie. Paris: Fayard, 1987; Les Iycées. Paris Seuil, 1991; Sociologie de l´experience. Paris: Seuil, 1994 (edição portuguesa; Lisboa, Intituto Piaget, 1997) e A l’école. ( com Danilo Martucelli ) Paris: Seuil, 1966.

Leia a entrevista completa em: http://noite.wordpress.com/2009/11/24/a-quando-o-sociologo-quer-saber-o-que-e-professor-entrevista-com-francois-dubet/